Granito Group Insights
july 12, 2019

Are there good CEOs in Portugal?


Rodrigo Tavares

Em Portugal há 1,3 milhões de empresas (dados Pordata). Dessas, 59 são listadas em bolsa tendo acionistas pulverizados por todo o mundo. Eu, filho de um empresário, há muito reformado, que trabalhou toda a vida no mesmo grupo, uma das joias da indústria portuguesa, cresci a escutá-lo ao telefone. Era uma geração que gostava da clareza da hierarquia, do tradicionalismo dos procedimentos, e da afinidade com o comendador local. Eram poucos os que tinham formação específica em gestão de empresas ou cultura multinacional.

A geração seguinte de empresários, hoje com mais de 50 anos, continua a ser pouco qualificada. Em cada 100 empregadores portugueses, 55 não têm o ensino secundário ou superior (média da União Europeia é de 17 - dados Pordata). É uma das taxas mais baixas na Europa. Além disso gostam de controlo e por isso hesitam perante a abertura de capital em bolsa, o que lhes dá menor exposição a mercados internacionais.

Desses, quem foi à universidade, aprendia que ser um bom CEO significava maximizar lucros apenas através da aceleração das vendas de produtos ou serviços. E significava pensar em resultados trimestrais.

Hoje, as escolas de negócios, da Harvard Business School à London Business School, preparam executivos para um mercado muito mais complexo e exigente. As empresas precisam de identificar os interesses dos seus stakeholders - de acionistas a funcionários, de consumidores a fornecedores, da sociedade ao meio ambiente - e conseguir, a partir disso, gerar oportunidades financeiras. Deixamos de governar apenas para dentro. É um bom negócio ser uma empresa boa.

Quase diariamente surge um novo estudo a demonstrar que empresas que tomam em consideração o desempenho ambiental, social e a gestão da companhia (conhecidos como fatores ESG, em inglês) são empresas mais rentáveis. Adotar boas práticas em mitigação de mudanças climáticas, eficiência energética, segurança no trabalho, diversidade de recursos humanos, transparência e ética - apenas alguns exemplos entre centenas de indicadores - resulta em métricas financeiras positivas como crescimento médio de vendas, retorno sobre ativos, fluxo de caixa de operações, ou custo do capital.

Forma-se um círculo virtuoso. Como empresas sustentáveis são mais lucrativas, os maiores investidores, como fundos de pensão, family offices ou fundos soberanos, têm pressionado as empresas em que investem para adotarem o caminho da sustentabilidade.

Um exemplo? O Norges Bank, o maior fundo soberano no mundo, que detém ações da EDP, BCP, REN ou Jerónimo Martins, adotou recentemente a nova política de votação nas milhares de empresas em que investe. O novo capítulo sobre "Práticas Sustentáveis de Negócios" informa que:

"Esperamos que as empresas considerem fatores de risco sociais e ambientais na planificação estratégica de negócios de longo prazo. Estes fatores podem ter um efeito significativo no valor dos ativos de uma empresa ao longo do tempo e na sua capacidade de gerar retornos de longo prazo para os acionistas."

Os números impressionam: o volume global de capitais que são investidos tendo em consideração as práticas de sustentabilidade atingiram os US$ 31 biliões, o que já corresponde a 36% de todo o mercado de capitais. É um mercado que cresce 17% ao ano.

Esta é uma das maiores revoluções do capitalismo. Ser social e ambientalmente responsável, ironicamente, dá dinheiro.

Mas os CEOs portugueses continuam apartados desta discussão. É verdade que empresas como a EDP, Jerónimo Martins ou a Galp são destaque internacional em responsabilidade corporativa e conservação ambiental. São bem avaliadas em índices como DJSI, FTSE4Good, Stoxx, CDP. Mas são a exceção.

A semana passada, em Londres, ouvi António Horta Osório, presidente do Lloyds Banking Group, anunciar um conjunto de medidas inovadoras para o banco adaptar-se ao novo mercado da economia sustentável. Uma delas passa por treinar 500 funcionários do banco. Mas nesse evento Green Finance Summit, que juntou perto de 1000 banqueiros e empresários, Portugal esteve ausente.

Do ponto de vista mais técnico, a maioria dos nossos executivos ainda não transforma o valor da sustentabilidade em boa performance financeira. A sustentabilidade corporativa continua a ser vista como um assunto de fim de corredor e não de Conselho de Administração, liderado por quem gosta de salvar o planeta e não por quem discute resultado EBITDA.

Quantos são os CEOs que pensam de forma diferente?

 

Publicado originalmente na TSF. Disponível aqui.